Blogue simples e personalizado, de conteúdo essencialmente literário, dando voz tanto a autores desconhecidos como veiculando autores célebres; com pequenos focos na música, pintura, fotografia, dança, cinema, séries, traduzindo e partilhando alguns dos meus gostos pessoais.
Sejam benvindos ao meu cantinho, ao meu mundo :)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Dúvidas





Jovem:
“ Que raio de sentimento é este que precisa de ser correspondido para ser belo aos olhos de todos?


Que raio de pessoas são essas que Divinizam esse sentimento como uma máxima da vida mas, na realidade, traz tudo o que há de pior em nós:
• A infelicidade;
• A dor;
• A angústia;
• A solidão;
• A tristeza;
• A insatisfação;
• A dúvida da necessidade da nossa existência.


Mas que raio! Como é que esse sentimento nos deixa assim? Aliás, como raio é que esse sentimento nasce do nada? Porque raio não o podemos excluir de nós quando queremos? Porque raio temos de permanecer com algo tão indesejado e repugnante como o amor?”


Velho:
“ Meu filho, já alguma vez sentiste vontade de amar alguém e de ter um único momento que compense toda essa repugnância?”



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nousdeux.eklablog.com
Autor da imagem: Heise Jinyao

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

"Ilha"

Com o verde em imensidão
E um areal interminável
Fez da Lua o seu coração
E do seu poder indominável.
Reinam nela animais encantados
Fadas, seres e princesas,
Ogres, elfos e cavalos alados;
Seres de todas as naturezas
E de todos os formatos.
Aqui, a paz é imprescindível
A afinidade e a sinceridade, também
A desordem é indizível,
As armas usadas para o bem.
Todas as raças se misturam
Tratam-se todos como irmanados
São os habitantes da ilha Urgzan
A ilha dos seres encantados


1ª Imagem da autoria de: Anne Stokes
www.annestokes.com


2ªimagem da autoria de: Heise Jinyao
http://www.heisejinyao.com

"Aurora?..."



Como pode aquela parte do teu coração
De pedra dura e escura,
Resistir à flor de espuma da minha água


Porque te dei os meus olhos a beber
E não te perguntei:
-Tens Sede?


Não!
Não devia ter entregue os meus
Pássaros nas tuas mãos
Para os perderes assim!


Como tu és de Água Cruel
E Fria?
Suja, talvez?..


Porque amo a Noite
Julgando ser o Dia?


05.03.1990

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danielkleiz.blogspot.com

quarta-feira, 10 de setembro de 2008



...somnium locus
qui ab filii unos otiosos inteligincia,
plus generatus per vanium minime...

(William Shakespeare/Romeu e Julieta, I.i)


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bloguedoguiih.blogspot.com

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Warrior Up,Warrior Down- de Florbela de Castro



Eu já tinha despido a armadura
Pousado a lança, e todas
As minhas armas
Fiquei estendido no solo
A agonizar com as minhas feridas
O vasto campo fértil virou
Solo estéril e poeirento.
Corpos jazem
Semeados no cinzento cenário
Estou no chão com a armadura em frangalhos.
O meu olhar turvo
Ainda vislumbra ao longe
O meu inimigo a afastar-se
Altivo e incólume.
Vou morrendo
A minha campa é o fundo do poço
O sol abandona-me
E a Noite é Fechada e sem Estrelas.
A guerra acabou.
A derrota foi fatídica.
Já não sou guerreiro,
Nem sobrevivente.
A estocada final foi lancinante
E pôs fim a uma longa e cruel tortura.
E afinal de contas, a lança que me trespassou
Eram verdades reveladas
E escondidas.
Vindas do Reino que defendia
Do Rei por quem lutei,
Do ideal que acreditei!...
Era uma armadilha...!
A minha carne inerte
Afunda-se na terra.
Acordo,
Olho para o lado
Uma luz cega-me.
É um violento sol vermelho.
Estou em pé
Surpreendido por estar
Num campo de batalha
Desconhecido
Olho para mim e envergo
Uma armadura diferente
Tenho um escudo romano
E uma espada reluzente.
Observo o meu novo rei:
Era o meu inimigo,
Aquele contra quem tanto lutei.
Tento vislumbrar então
Que identidade tem o meu inimigo;
Assombrado reconheço
Tudo aquilo pelo qual
Tanto lutei e acreditei!
Sou agora um guerreiro
Destemido
Nada disposto a ser derrotado
Nem vencido.
Vejo o Inimigo a aproximar-se
De aspecto Belo e Reluzente
Mas já não me engano mais
Porque lá no fundo
Cá dentro
Estou diferente. Indiferente!
Daquele Paraíso resplandecente
Só vou encontrar um Inferno
Que arrasa com o mais crente!
Empunho as minhas novas armas
Com orgulho e glória
E vou à luta outra vez...
Mas não pertenço a Nada
A Ninguém
Ou a lugar nenhum
Sou um forasteiro
Sim, sou um estranho
Sem lugar...


08.05.07


Imagens da autoria de Heise Jinyao

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"O Perfeito Homem Incompleto" - de Florbela de Castro



Há uma clareira num bosque pintado de azul
E a lua cheia, nimbada, mancha de branco o paul.
Um nevoeiro denso envolve a paisagem, como num sonho.
E à excepção de uma leve brisa, o silêncio é medonho.
Mais lá adiante, o céu tinge-se de néon
E daí, trazido pela brisa, ouve-se um ligeiro som;
O restolhar da relva, devido ao orvalho da madrugada
Denuncia, recortando-se no horizonte, uma aparição encantada.
A figura estacou a escassos metros de distância
E revelou ser um homem de ar simples, mas extrema elegância.
Os seus longos cabelos loiros eram ondulados
E a sua pele diáfana tinha reflexos dourados.
O seu rosto de traços perfeitos era cheio de harmonia
E os seus olhos azuis, grandes, claros e límpidos como uma safira.
O alto homem fitou-me sem, no entanto, falar
E começou a conversar comigo, sem a sua boca descerrar.
Sobressaltei-me ao escutar palavras que não eram trazidas pelo vento
Pois a voz grave e calma era-me transmitida por pensamento
Inquiriu-me, então, pausadamente, o que fazia eu naquele lugar
E eu respondi: - Mergulhei no mundo dos sonhos e vim aqui parar.
Interpelei-o sobre o porquê de não articular palavras
Ao que ele respondeu, prontamente, que eu não entenderia nada.
Intrigada, quis saber a razão dessa afirmação
E ele retorquiu que o meu mundo era deturpado e cheio de corrupção
Por isso, os seus habitantes, como eu, não conseguiam compreender
O idioma daquele mundo que eu viera conhecer
O homem estendeu-me a mão para o seu país me mostrar
E naquele momento reparei que a aurora estava a despontar.
Vi planícies e montes onde o verde-esmeralda era a cor dominante
Mas acho que nem tenho palavras para descrever aquela maravilhosa paisagem luxuriante.
Aqui, a fauna e a flora pareciam mais livres e viçosas
Do que quaisquer outras que eu tivesse lido em romances cor-de-rosa.
Extasiada, opinei que ele vivia num Paraíso;
Contudo, o homem fitou-me sem esboçar um sorriso.
Indaguei como podia estar tão triste com um mundo tão perfeito, para mim
E o homem confessou que se sentia infeliz assim,
Pois faltava-lhe algo para a sua felicidade colmatar,
Algo que não existia no seu mundo e que ele ansiava encontrar.
Admirada reflecti comigo mesma – “ E vivendo num Paraíso que mais poderá ele querer?”
E ele respondeu, já falando: - “ É que eu sou um Homem e tu uma Mulher!”

1996
Artwork © - Jonathon Earl Bowser - www.JonathonArt.com.
http://www.jonathonart.com/thun.html

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