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domingo, 13 de março de 2011

Açucena: CHAPTER IV - 1ª Temporada - de Florbela de Castro


Era noite alta. As bodas já haviam decorrido e as festas estavam perto do desfecho, naquele momento, talvez Açucena e Édouard estivessem já na lua-de-mel.
A lua firmava-se alta e bem perto. Philippe encontrava-se perto das margens do rio, olhando para o seu caudal fixamente, sem no entanto nada ver, tendo como pano de fundo a sobriedade de um grande convento. Encontrava-se mergulhado em um estado de apatia e resignação alternando com uma tristeza silenciosa. Lágrimas escorreram-lhe pela cara. Ergueu o rosto totalmente para o céu e acabou por fechar os olhos.
Porque a vida o castigara assim? A dor de alma que o assolava era lancinante. Açucena! Tinha de a esquecer! Tinha de mitigar aquela dor. Mas como, se Açucena era a alegria da sua existência? Seria melhor que Deus o levasse naquele momento! O seu corpo era sacudido por soluços pungentes.
-Por favor, meu Deus, fá-la feliz! Eu troco a minha vida pela feliz existência da minha amada! Leva-me! Eu não aguento mais este sofrimento, que me despedaça o coração!
-Alto! Que fazeis meu filho? – a figura de um velho frade, magro e de barba pontiaguda como as nuvens, surgiu no seu campo de visão. – Qualquer que seja o teu sofrimento não vale perderes a tua alma, acabando com a tua vida.
Philippe encarou-o perplexo por uns momentos, mas depois retrucou, entendendo-o.
-Não senhor frade, o meu desejo não é matar-me, mas sim que Deus me leve!
E confessou ao frade todas as suas mágoas.
-Meu filho, compreendo a tua dor. O teu coração é puro, é genuíno e tens uma alma nobre e generosa, capaz de amar incondicionalmente. Essa jovem parece boa moça, mas ainda não aprendeu a defender-se das artimanhas mundanas. Tem fé que um dia a tua amada alcance a razão e dê valor ao teu amor. Há coisas que nem todo o ouro do mundo paga, tais como um amor e dedicação inabaláveis quanto os teus.
-Neste momento sou um homem amargurado; perdi a fé e a esperança e sinto-me um inútil.
-Filho, não te deixes afetar por essa dor de coração que te consome. Não permitas que ela te contamine a alma também. És filho de Deus e ele não abandona os seus.
-O meu coração está completamente estilhaçado. – Retorquiu Philippe com os olhos húmidos. – Preciso sair daqui, desta cidade, deste país…
-Pode ser que eu tenha a solução para ti. – Redarguiu o frade com a cara iluminada por um sorriso misterioso.




link da 3ªparte: http://artlira.blogspot.pt/2011/03/acucena-chapter-iii.html
link da 5ªparte: http://artlira.blogspot.pt/2011/03/acucena-chapter-v.html

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Imagem da autoria de Jasmin Darnell.

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