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quinta-feira, 21 de julho de 2011

Açucena: CHAPTER IX - 1ª Temporada - de Florbela de Castro


Édouard abriu os olhos vagarosamente e deparou-se com o tecto de vigas escuras e carcomidas. O braço e nu e feminino de uma mulher enlaçou-o. Olhou-a meio impaciente. Mulheres!
Interessavam-lhe para seu bel-prazer, mas após determinado tempo tornavam-se incomodativas. Charlotte não era excepção.
Ergueu-se com gestos bruscos fazendo menção de se vestir.
-Já vais? – A voz feminina soou magoada e os seus olhos enchiam-se de lágrimas. - … E as crianças?...
-Detesto este tipo de cenas! – Cortou Édouard agreste.
Já vestido foi secundado por ela até ao exterior onde, antes de montar no seu belo alazão, pegou no queixo dela e beijou-a.
-Quando puder, volto. – E sem mais delongas partiu a galope.
Charlotte era fascinada por Édouard. Este achava-a bela e satisfazia-lhe a ideia de que a tinha à sua inteira disposição, submissa e doce, completamente subjugada. Contudo, com ela não sentia o mesmo do que com Açucena, a sua bela esposa. Esta despertava-lhe o desejo de uma forma mais viva.
O duque sorria interiormente, comparando-as mentalmente e revivendo os seus momentos de luxúria com cada uma.
O sol subia no horizonte, causando canícula. O meio-dia acercava-se.
Passando por um riacho decidiu apear-se e lestamente despiu as suas vestes, pronto a entrar nas águas frescas e cristalinas do caudal. Parte do arvoredo descia quase tocando no purificador líquido, adornando as margens serpenteadas.
Entrou, mergulhou, sentindo-se imediatamente revigorado. Satisfeito deu umas braçadas fortes, mergulhando novamente e emergindo. No seu campo de visão desenhou-se o que ele julgou ser uma ninfa: cabelos cor de fogo e pele nimbada; a bela figura banhava-se como uma Afrodite nas águas.
A formosa jovem, que não era nada mais que Evelyn, que olhou  igualmente surpreendida a esbelta aparição masculina. A mulher não sentiu pudor de ser assim mirada por um homem desconhecido; o género masculino não a assustava nem a domava, pelo contrário. Quase imediatamente uma atracção brotou entre os dois, como uma força da natureza.
Édouard foi apanhado de surpresa por aquele novo sentimento; só gostava de Açucena; às outras mulheres achava-lhes graça, atraiam-no, mas tratava-as como joguetes. Mesmo Charlotte, que fora um pouco a excepção à regra, não conseguia segurar o duque estroina.
Os dois miravam-se fogosamente e quase ao mesmo tempo caminharam em direção um ao outro. Pararam, sustendo a respiração. A água escorria do corpo de Evelyn, tal como do corpo de Édouard, fazendo com que os seus corpos reflectissem as gotículas como cristais ao sol. Perplexo, este viu a ruiva desconhecida rodeá-lo com os seus braços e fundir-se num beijo profundo.
Mais do que o seu corpo estremecer, estranho foi o que sentiu no seu peito: Primeiro um aperto, um pulo, depois uma abertura, uma dor que se expandiu num bem-estar infinito. 
O que era aquilo?
Pela primeira vez Édouard sentiu algo de novo. 
Pela primeira vez Édouard olhou para o interior de uma mulher.      
E pela primeira vez sentiu que devia frear-se.
E freou-se. 
Docemente. Suavemente. 
Ela entendeu e sorriu.


Link da 8ª parte: http://artlira.blogspot.pt/2011/05/acucena-chapter-viii_30.html
Link da 10ª parte: http://artlira.blogspot.pt/2014/06/acucena-10-capitulo-2-temporada-de.html


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Autor da imagem: Heise Jinyao

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